segunda-feira, 20 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Jack, o escanção

Não consigo passar sem vinho. Sem vinho nem sequer vale a pena jantar. O vinho ajuda a tornar-me em mim próprio que, quando lúcido, sou perfeitamente execrável e detestável. Aliás, este post é escrito sobre influência descarada de uma garrafa de Rioja.


Comecemos: como sabem há vários tipos de vinhos: o tinto, o branco e o rosé. O rosé é cor-de-rosa e o branco é branco. Se querem orientação sobre vinhos cor-de-rosa ou brancos, epá, este post brilhante não é para vós.


Na altura de escolher um vinho recomendo que citem um nome estranho. Isso põe logo o empregado em sentido. Adicionalmente existe a forte probabilidade de ele, depois de revirar a cave inteira, regressar com um ar constrangido e dizer: "lamento, mas não temos...". Isto dá, de imediato uma vantagem a nosso favor. A humilhação a que sujeitámos o empregado são pontos extra. Podem mesmo pedir vinhos com nomes inventados como, por exemplo, "Focinho de Vaca"; "Bicicleta do burro", etc.


Não peçam, no entanto, estes abaixo porque existem mesmo e quem corre o risco de fazer figura de parvo são vocês: "Bastardinho de azeitão"; "Bucho"; "Cabeça de Burro"; "Caves da Porca"; "Cave das abertas"; "Torna Grande".


Para provar um vinho é absolutamente necessário manter o suspense. Imaginemos a cena: o empregado decantou o vinho, colocou no vosso copo, rodar o copo, fazer um ar enjoado e provar. Aqui devem reter o vinho na boca alguns segundos e fazer o ar de quem era capaz de mandar um monocasta Touriga Nacional de 2003 para trás. Ainda este fim de semana fiz isto e deixei a minha habitual companhia de jantaradas completamente impressionada, a rebolar-se aos meus pés com toda a minha classe. Também podem aprovar e, quando o empregado vai a servir, levantar a mão como se tivessem detectado algo manhoso no palato e deixar o empregado em suspenso (eles gostam disto, a sério). Depois aprovem! 
Também podem provar e cuspi-lo indignadamente. Aqui convém fazer alguma observação com sotaque francês como, por exemplo "Masss que merrda é essta que serrrviu,  mon dieu?". Não abusem, no entanto e, sobretudo, se tiverem a vossa companhia à frente!


Uma das merdas que convém evitar é aquela do "ah e tal, toque de frutos silvestres, ameixas e frutos secos". Corre-se o risco de apanhar com um empregado que perceba mesmo daquilo e o gajo demonstrar que confundiram baunilha com canela ou casco de carvalho com contraplacado.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cenas da vida doméstica

A polícia veio aqui ao bairro por causa de uma disputa entre marido e mulher, num prédio aqui ao lado. 
O marido perdeu a cabeça... Ela ficou só com escoriações!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Jack, o intelectual à paisana

"there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?"

— Charles Bukowski

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Somente para vos deixar com um post motivacional para quando estiverem a por a cruzinha lá no papel, no Domingo, antes de me ir embora de fim-de-semana! Quem é amiguinho, quem é?

Já decidi: vou ser fotógrafo artístico de gajas nuas

Ultimamente, no entanto, tenho pensado muito em dedicar-me às artes visuais. A primeira coisa em que pensei foi em começar a pintar. Calha, no entanto, que é preciso ter jeito para desenhar. Isto traz um problema de difícil resolução a não ser que os cânones da arte em questão passem a considerar dois riscos verticais concorrentes num terceiro vertical, com uma bola no cimo a representar uma cabeça, algo de mínimo bom gosto e não me parece que isso venha a acontecer. 

A fotografia parece ser bastante mais fácil. Vai daí, e enquanto abrem as vossas recheadas carteiras por causa da pedinchiche no meu post anterior, resolvi dar-vos alguns exemplos do tipo de obras de arte que a vossa generosidade me vai permitir realizar:


Ok, pronto! Esta está morta. Não conta... Vejam lá esta então:


Esta precisa de um Kompensam... Passemos à frente:


Dá vontade de picar os balões com um alfinete, não é?... Next!


Um elástico pró cabelo...


Flash, pois... Adiante!


Já vi politraumatizados com poses mais naturais...

E agora? Já estão convencidos que preciso mesmo de uma máquina fotográfica nova? Vá, aceito donativos em dinheiro, cartões de crédito e cheques... visados.


Se vocês fossem mesmo, mesmo, mas mesmo meus amigos, ofereciam-me isto


Ah, e também preciso de uma massagem aos pés!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Está na hora do almoço! Vou comer umas batatas fritas.

Já agora...

Qual é uma palavra de 4 letras, que é escrita com 3. Já é escrita com 2 e depois com 6. Raramente com 9 e nunca com 5.

Cá me hei-de desenrascar

Tive um pesadelo com a Gloria Gaynor. At first I was afraid, then I was petrified.

O piano esteve a beber, e eu também

A mulher saiu da casa de banho. Parou por momentos em frente à porta e olhou-me através do fumo do bar. Os nossos olhares cruzaram-se mesmo antes de me servir mais um Jack Daniels. Puxei a aba do chapéu para baixo e apertei a minha gabardina cinzenta. Não poderia ela suspeitar da arma que trago no bolso das calças.  Ainda não é a sua hora mas o seu destino está marcado.


A sua cabeça virou-se para o outro lado do bar. Tom Waits toca o piano lá do fundo. 


Hey Charlie i'm pregnant
And living on the 9th street
Right above a dirty bookstore
Of Euclid avenue
And I stopped takin dope
And I quit drinkin whiskey
And my old man plays the trombone
And works out at the track


Especadas no meio do bar estão as mesas e as cadeiras de madeira. Velhas, como eu. Nos meus bons tempos o assassino a soldo mais temido do Cartaxo e agora uma carcaça ambulante. Agora um velho corroído pela cirrose e o cancro no pulmão.  


And he says that he loves me
Even though its not his baby
And he says that he'll raise him up
Like he would his own son
And he gave me a ring
That was worn by his mother
And he takes me out dancin
Every saturday night.



O casal, na única mesa ocupada do bar, troca segredos entre si. São jovens. Que lindo é o amor quando somos jovens. Olho-os com inveja. Como eles se querem envolver, os corpos nus  entrelaçados em movimentos ritmados e ofegantes. Afago a minha arma por baixo da gabardina... Se eles soubessem o papel que a história lhes vai destinar esta noite... 


And hey Charlie I think about you
Everytime I pass a fillin station
Om account of all the grease
You used to wear in your hair
And I still have that record
Of little anthony & the imperials
But someone stole my record player
Now how do you like that?



A mulher decide-se. Com três passos atravessa a distância que a separa do balcão. Vejo-a inclinar-se sobre a placa de mármore suja. Os seus seios quase saltam do decote enquanto levanta a mão e chama o empregado com gestos de indicador. 


Hey Charlie i almost went crazy
After Mario got busted
So i went back to Omaha to
Live with my folks
But everyone I used to know
Was either dead or in prison
So I came back to Minneapolis
This time I think I'm gonna stay.



Dentro do bar, o homem com o palito ao canto da boca, aproxima-se titubeante. Os pelos do peito saiam-lhe pela camisa aberta e quase escondem o crucifixo de ouro que lhe pende do pescoço. Vejo-lhe o tamanho da unha do dedo mindinho e apetece-me cravá-lo de balas mas o seu destino será selado por uma máquina debulhadora de cereais alguns meses mais tarde. Sirvo-me mais uma dose de Jack Daniels. Tom Waits continua a cantar. 



Hey Charlie I think I'm happy
For the first time since my accident
And I wish I had all the money
That we used to spend on dope
I'd buy me a used car lot
And I wouldn't sell any of em
I'd just drive a different car
Every day, dependin on how I feel
A mulher inclina-se para o homem dentro do bar. Passa-lhe as mãos pelos  braços e sente o vigor daqueles músculos endurecidos. Passa-lhe as mãos pela cara, pela barba mal feita, pelo peito, as suas mãos brincam com os pelos do homem.
Hey Charlie for chrissakes
Do you want to know the
Truth of it?
I don't have a husband
He don't play the trombone
And i need to borrow money
To pay this lawyer
And Charlie, hey
I'll be eligible for parole
Come valentines day



A mulher encosta a boca ao ouvido do homem e a sua voz rouca sussurra-lhe: 
"Na casa de banho das mulheres não há nada para limpar as mãos."