terça-feira, 30 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Carla

Mas como é que eu havia de me lembrar que ela não se chamava Carla? 

Foi há uns dez anos, numa manhã de Junho, na cozinha da casa dela. Era lá que nos encontrávamos. Depois do pequeno almoço, arrumei a minha mochila de tropa pela última vez. Acendi um cigarro e fiquei a olhar para ela. Tinha o roupão meio aberto forçado a abrir pelos seus seios. Não disse nem fez nada para o evitar, nem sequer levantou os olhos da mesa para mim. Saí porta fora. Era melhor assim! Daqui a pouco haveriam de chegar homens, nos seus carros grandes, brilhantes e luminosos, para estar com ela. Ali perto havia uma curva onde o comboio abrandava. Se tudo corresse bem eu havia de conseguir saltar para um vagão e ir à minha vida...

- Nem sequer te lembras do meu nome, Jack. - dizia agora ela com a arma apontada na minha direcção.
- Como é que queres que eu me lembre. Foi há tanto tempo... - respondi-lhe, enquanto tentava afrouxar as cordas que me prendiam os pulsos atrás das costas da cadeira. A cabeça doía-me. Sentia as costas molhadas pelo sangue que escorria do local onde ela me tinha batido, mas continuei: 
- Quando nos separámos nem sequer te dignaste levantar a cabeça para olhar para mim...
Ela permanecia calma: 
- Eu estava desmaiada, Jack. Sedada pelo que colocaste no leite. Acordei com as sirenes e as luzes dos carros da policia a cercarem a casa. Eu passei dez anos na cadeia, Jack.
- Tu, tu... Já viste que és sempre tu? E eu? Eu saí de casa com a roupa do corpo e uma mochila às costas!
- Tu levavas dois milhões de euros na tua mochila, Jack. Deixaste-me ali sem nada...
- Não é verdade! Deixei-te um molho de notas na mesa da cozinha!
- Sim! De notas de 5 Euros com numeração sequencial que a policia associou logo ao roubo do banco. Nem sequer te preocupaste em saber o que me tinha acontecido. Nem mostras remorsos nenhuns...
- Mas que querias tu que fizesse? Que me matasse? Agora que o Benfica até tem uma equipa jeitosa!
- Nessa altura jogava o Cadete, Jack...
- Querias que me entregasse? Tu sabes o que fazem a tipos tão giros como eu na cadeia?
Ela calou-se. Notei-lhe alguma hesitação quando baixou ligeiramente a arma. Era a minha vez de falar:
- Lembras-te quando fomos a Berlim? Como nos divertimos lá?
- Nós nunca fomos a Berlim, Jack. Eu esqueci-me do passaporte. Tu passaste pela segurança, encolheste os ombros e fizeste sinal de que me ligavas quando chegasses.
- Ah, então a Carla foi aí!! Esquece... Mas já tínhamos tudo pago. Que querias que fizesse? Tu és de guardar ressentimentos, não és? Pensas que eu também não tenho razões de queixa de ti?
- Ah, sim? Quais então? Diz-me uma que seja!
- Não digo. Não vale a pena falar sobre isso que eu não sou de guardar ressentimentos...
- E daquela vez que estivemos em África, naquele safari? Quando tu fugiste com o jipe e me deixaste em frente aos leões?
- Lá vens tu com isso outra vez. O que querias que eu fizesse? Os leões eram grandes e eu não sou o Tarzan. Acabaste por te safar, não foi?

Ela baixou a arma derrotada pela clareza do meu raciocínio. Houve um silêncio.
- Queres casar comigo? - perguntei-lhe.
As mãos começaram a tremer-lhe. Gotas de suor começavam a escorrer-lhe pela testa.
- Sim, oh sim, querido!
- Ok, pronto, deixa lá! Era só para saber!
A primeira de seis balas atingiu-me na orelha. Ela sempre teve má pontaria.








quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Este blog sabe, de fonte segura, que um dos objectivo principais dos rebeldes líbios é a destruição do guarda-fatos de Kadafi








Por outro lado, com Kadafi praticamente capturado pelos rebeldes, deixará de haver ditadores fashion. Vamos ter de nos contentar com os uniformes dos Castros e os fatinhos do Kim Jong Il...


That is so yesterday...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pois é... Andei pelo estrangeiro com a minha mala de cartão #2

Fiquei algo apreensivo, em Berlim, durante um almoço, quando me voltei para trás e vi isto:

(Os pássaros em Bodestrasse, Merridew, 2011)





O que me me fez temer que algo deste tipo poderia estar a ser conspirado por aqueles bandidos emplumados: 

(Os pássaros em Bodega Bay, Hitchcock, 1963)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pois é... Andei pelo estrangeiro com a minha mala de cartão.

O muro de Berlim foi construído em 1961. Fez, em meados de Agosto deste ano, 50 anos, e eu estive lá uns dias antes para fazer a reportagem do que resta dele:


Niederkiechnerstrasse, entre Postdammer Platz e o Checkpoint Charlie, na Friedrichstrasse, a Topografia do Terror, a uns 200 metros do nosso hotel, e só nos apercebemos disso 2 ou 3 dias depois de lá estarmos... Nem sei para onde é que encaminhámos a turista que nos perguntou onde é que era isto na primeira noite em que chegámos... Nunca é demais chamar a atenção para a intensidade e simbolismo que transmito nesta fotografia, não vá isso passar despercebido...


A East side galery, na Mühlenstrasse, no outro lado do rio Spree, em relação ao bairro de Kreuzberg. É uma secção de uns 2 kms de muro.

Mais do mesmo. Parece que este grafiti é famoso...

Gostei particularmente deste. De Ignasi Blanch, um rabiscador catalão.

E mais um...


E este também mas já sou eu a brincar ao Totoshop!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Straigth to hell

Fui expulso da catequese quando perguntei se Jesus conseguia caminhar sobre a água mesmo com os pés furados.            

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sobre a crise e quem a encomenda

Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia fígados de galinha estufados. Não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia os melhores fígados da região. Preocupava-se com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava. As vendas foram aumentando e, cada vez mais ele comprava as melhores cebolas, os melhores temperos e os fígados das melhores galinhas. Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses. O negócio prosperava... Os seus fígados estufados eram os melhores! 

Com o dinheiro que ganhou conseguiu pagar uma boa escola ao filho. O miúdo cresceu e foi estudar Economia numa das melhores Faculdades do país. Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo os seus fígados de galinha estufado feitos com os melhores ingredientes e gastando dinheiro em cartazes, e teve uma séria conversa com ele:

- Pai, não ouve rádio? Não vê televisão? Não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso País é crítica. Há que economizar!
Depois de ouvir as considerações do filho, o pai pensou: bem, se o meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, vê televisão e internet, e acha isto, então só pode ter razão!

Com medo da crise, o pai procurou um fornecedor de ingredientes mais baratos e de pior qualidade. Começou a comprar também fígados mais baratos. Para economizar, deixou de mandar fazer cartazes para colocar na estrada. Abatido pela notícia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta. Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo até chegarem a níveis insuportáveis. O negócio dos fígados de galinha estufados do homem, que antes gerava recursos... faliu. O pai, triste, disse ao filho: 
- Estavas certo filho, nós estamos no meio de uma grande crise.
E comentou com os amigos, orgulhoso: 
- Bendita a hora em que pus o meu filho a estudar economia! Ele é que me avisou da crise...




Jack is dead

- Epá, tu lembras-te do Jack?
- Nem me digas nada. Esse tipo era uma besta, pá!
- O gajo morreu...
- A sério? Um tipo tão porreiro. Mas como é que isso aconteceu?
- Nem vais acreditar. Conheces aquela curva da estrada em frente a minha casa, não é? Imagina que o tipo vinha a conduzir, perdeu o controlo do carro, enfiou-se pelo meu jardim adentro, destruiu a minha plantação de begónias, bateu na minha fonte com o miúdo a mijar e saiu projectado pelo pára-brisas. Foi tal a violência que o tipo atravessou a porta envidraçada da minha sala...
- Porra, que maneira de morrer...
- O gajo não morreu! Levantou-se todo cortado de vidros, a cambalear e foi contra a cristaleira onde tenho a minha colecção de galos de Barcelos e de dálmatas de loiça. A cristaleira caiu-lhe em cima...
- Porra, morrer esmagado...
- O gajo não morreu, pá! Arrastou-se debaixo da cristaleira até à cozinha e tentou por-se em pé a agarrar-se aos armários. Acabou por puxar o faqueiro onde tenho as facas de trinchar e caíram-lhe todas em cima. Ficou com 14 facas cravadas no corpo...
- Porra, que morte dolorosa...
- O gajo não morreu pá...
- Espera lá! Mas como é que ele morreu?
- Abati-o a tiro!
- O quê?? Mas tu deste-lhe um tiro?
- Epá, teve de ser! O gajo estava a destruir-me a casa toda!