quinta-feira, 7 de outubro de 2010

7 de Março de 2036


Acabo de saber que vou bater as botas no dia 7 de Março de 2036 , uma sexta-feira. Vou já marcar a data na minha agenda para ver se estou em casa nesse dia. Não gosto de fazer as pessoas esperar. Já estou a imaginar-me a meter a chave à porta de casa nesse dia, a Morte sentada no sofá e a perguntar-me: "Sabes há quanto tempo estou à tua espera? És sempre a mesma coisa. Não respeitas ninguém...". É constrangedor.

(A ver também se não vou por roupa à lavandaria uns dias antes. Convenhamos, não faz sentido!)

Ou seja, no momento em que vos escrevo tenho 219657 horas de vida. Poderei, no entanto, alterar a data se comer feijoada à Transmontana em vez de uma salada de rúcula, se emigrar para a Somália, se passar a fumar cogumelos em vez de os comer, beber vodka como quem bebe água das pedras, ou vice-versa. É fantástico o controlo que temos sobre o nosso destino. Não fazia ideia...

Pessoalmente estou-me a cagar (pardon my French) com o que vão fazer com o meu corpo. A melhor hipótese seria cremação directa. Nada de funerais com carpideiras e cortejos. Ou então, se o fizerem, usem o meu corpo para piadas, por exemplo, peçam para tirar fotos a apertarem-me a mão, digam às pessoas que eram o meu amante gay, usem a minha língua para humedecer selos, coisas giras assim... Nada de necrofilia e a piadinha parva de bater no caixão para ver se alguém responde, obrigado!
Confirmem mas é que estou morto antes, passem o "Ceremony" versão New Order, e podem mandar-me directamente para o forno crematório. Assim como assim vou-me habituando ao que me espera. Burn baby burn!

E os caixões? Além de estupidamente caros têm um design completamente passé! Sou de opinião que os caixões deviam ser quitados, tipo com cromados, dourados, luz negra incluida, colunas sonoras, ar condicionado e um plasmazito. Não era necessário ter jantes de liga leve nem escape duplo Akaprovic porque, é pá, isso era um disparate!

Agora que penso nisso, a cremação era uma belissima maneira de resolver o problema imobiliário nos cemitérios. Não faço ideia de quanto custa o metro quadrado, deitado, num cemitério em Lisboa mas deve estar ao mesmo nível, de pé, que na Lapa... Para os mais pobres a coisa até poderia passar pela queima numa cimenteira. As cinzas eram devolvidas à família numa embalagem de take-away Chinês e a coisa resolvia-se com um puxar rápido de autoclismo. Depois era só limpar as paredes da casa de banho com produto do Lidl. "Era um bom homem" diriam!

Até consideraria deixar de beber e deixar de fumar, passar a comer coisas mais saudáveis mas... quem é que eu estou a tentar enganar?? Tenho 219653 horas até dia 7 de Março de 2036. Vou mas é ver se faço alguma coisa de jeito até lá.

Almoçar, por exemplo!



2 comentários:

S. disse...

O que é que fazes hoje à noite?

S. disse...

Mais importante do que saber o que fazes hoje à noite é saber se no dia 7 de Março de 2036 vai estar bom tempo. Tenho que pensar no que vou vestir, nos sapatos, se vou de cabelo solto ou apanhado, enfim, essas coisas.